
Como as universidades podem contribuir com o movimento de responsabilidade social empresarial? Essa questão vem sendo debatida na academia, nas empresas e nos institutos de pesquisa. Além de procurar criar uma grade curricular formando profissionais que atuem com uma postura em favor da sustentabilidade e da ética, os agentes do ensino superior levantam outros aspectos. Um dos temas tratados ao longo da eleição para a presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi a responsabilidade social do cientista.
Renato Janine Ribeiro, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, escreve em seu livro Por uma nova política – Uma campanha na SBPC (Ateliê Editorial) que falta aos cientistas uma maior preocupação social. “A responsabilidade social do pesquisador deve ser colocada em discussão. Você faz pesquisa para quê? Se faço uma tese em filosofia grega, o que é muito importante, tenho que saber explicar por quê. Direi, por exemplo, que uma universidade sem bons estudos de filosofia grega está limitada em sua compreensão geral do mundo. Esta é a justificação, e ela tem de ser dada. Não devemos ter medo do escrutínio público”.
Por esse motivo, o Ministério da Educação incluiu indicadores de responsabilidade social no novo sistema de avaliação das universidades e faculdades, o Índice de Desenvolvimento do Ensino Superior (Ides). A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicou em 2003 um balanço social em que, além de revelar suas posturas em relação a questões trabalhistas, ambientais, administrativas, mostra a contribuição da geração de conhecimento ao conjunto da sociedade. “A UFRGS fez uma belíssima interpretação de indicadores sociais para a universidade pública. Eles estão revendo suas práticas em questões como eqüidade de gênero e da admissão de cotas nas políticas nas contratações”, explica Cláudio Boechat, professor e gerente da Fundação Dom Cabral.
Para ele, tais atividades e discussões transmitem ao aluno a possibilidade de exercitar valores depois de formado. “As universidades passam por um momento de séria reflexão. O pensamento da responsabilidade social e da sustentabilidade são uma base teórica que tem sido colocada na grade curricular e na administração das instituições e isso é, de certa forma, uma demanda que parte dos jovens”, defende Boechat. O vice-diretor administrativo da Escola de Administração de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp), Jacob Jacques Gelman, afirma que o debate sobre a administração socialmente responsável ainda está no início, mas já tem influência e atrai os interesses do setor privado. “As instituições de ponta já organizam cursos e procuram capacitar as pessoas a gerir seus negócios com responsabilidade social. O primeiro papel da universidade é reunir informações sobre o assunto e disseminar o que vem sendo feito”, explica.
A opinião também é defendida por Ricardo Young, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos. “Responsabilidade social implica uma nova cultura de gestão. A preocupação de formar lideranças empresariais que tenham a administração socialmente responsável como sua visão primeira é fundamental para o aprofundamento do movimento pelo desenvolvimento sustentável”. Segundo ele, o crescimento da participação anual em prêmios como o Ethos-Valor atestam o aumento do interesse dos universitários. “No entanto, ainda são poucas instituições de ensino com expertise sobre o papel da responsabilidade social corporativa”, defende.
Por esse motivo, o Instituto Ethos concebeu o UniEthos, que irá produzir conteúdos didáticos e capacitar multiplicadores para atuar em empresas, universidades e consultorias para o ensino, pesquisa e produção de conhecimento nos temas da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável. “Nosso objetivo é levar o debate de forma mais sistematizada para as universidades e estimular as empresas, entidades e governos a promover a gestão socialmente responsável com mais qualidade”, defende Ricardo Young. “O papel das universidades nesse contexto é fundamental, uma vez que elas produzem cultura, profissionais e, principalmente cidadãos”.
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